Plano B: esqueça a faculdade

 

 

 

Qual é o segredo para o sucesso nos Estados Unidos? Além da opção de se tornar uma celebridade de reality show, a resposta é geralmente a mesma e, há quem diga, automática: faça uma faculdade.

A ideia de que quatro anos de educação formal no ensino superior se traduzem em um emprego melhor, salário mais alto e uma vida mais feliz - refrão que será repetido este mês em cerimônias de formatura de todo o país - é colocada na cabeça de jovens, pais e educadores desde cedo.

Mas há outro lado desta moeda feita de sabedoria popular. Talvez menos da metade daqueles que começaram um curso de graduação no outono de 2006 irá se formar em um prazo de seis anos, segundo as projeções mais recentes do Ministério da Educação.

Para os alunos do ensino médio que se qualificaram por último em suas classes os números são ainda mais alarmantes: 80% provavelmente nunca chegarão a conseguir o diploma ou mesmo um certificado depois de anos de estudo estudos.

E o preço pode ser muito alto. Um pequeno porém influente grupo de economistas e educadores busca incentivar outro caminho: alguns alunos deveriam esquecer a faculdade, afirmam. É chegado o momento, dizem, de se desenvolver alternativas possíveis para estudantes que provavelmente não serão bem-sucedidos em um curso de graduação ou simplesmente não estão preparados.

Entre aqueles que pedem essas alternativas estão os economistas Richard Vedder, da Universidade de Ohio, e Robert Lerman, da Universidade Americana, o cientista político Charles Murray e o professor de educação da Universidade Northwestern James Rosenbaum.

Eles acreditam que seria melhor orientar alguns estudantes para cursos intensivos de curta duração e treinamento profissional, por meio da expansão de cursos técnicos de ensino médio e programas para formar aprendizes.

“É verdade que precisamos de mais nano cirurgiões do que há 10 ou 15 anos”, disse Vedder, fundador do Centro de Produtividade e Capacidade Universitária, uma companhia de pesquisas sem fins lucrativos de Washington. “Mas os números ainda são relativamente pequenos em comparação aos de assistentes de enfermagem que iremos precisar. Nós precisaremos de centenas de milhares de enfermeiros na próxima década.” E grande parte do treinamento, segundo ele, pode acontecer fora da universidade.

O diploma universitário simplesmente não é necessário para muitos postos de trabalho. Dos 30 postos de trabalho que irão crescer na próxima década nos Estados Unidos, apenas sete requerem um diploma, segundo o Gabinete de Estatísticas do Trabalho.

Entre as 10 principais categorias de empregos apenas duas exigem diplomas universitários: contabilidade (um bachalerado) e o ensino superior (um doutorado). Mas isso é pouco se comparado à necessidade de enfermeiras, representantes de serviços de atendimento ao cliente e lojistas. Nenhum destes empregos exige diploma.

O professor Vedder gosta de questionar por que motivo 15% dos carteiros têm um diploma, de acordo com um estudo federal de 1999. “Alguns deles poderiam ter comprado uma casa com o dinheiro que gastaram em educação", disse.

Ainda que alguns educadores proponham uma remodelação radical do sistema de universidades para que preparem as pessoas para o mercado de trabalho, Lerman defende um significativo investimento nacional tanto pelo governo quanto por empresas privadas no treinamento por meio de programas para o treinamento de aprendizes.

Mas ao incentivar que alguns estudantes sejam afastados dos quatro anos de universidade, acadêmicos como Lerman estão provocando uma reação no sistema educacional. No mínimo, eles poderiam ser acusado de baixar as expectativas de alguns alunos.

Alguns críticos vão mais longe, sugerindo que essa abordagem educativa é o mesmo que discriminação, uma vez que muitos dos estudantes que abandonam a faculdade são negros ou hispânicos.

Mas outro argumento do processo contra a faculdade é que pessoas com diplomas e licenciaturas geralmente ganham mais do que aquelas sem a formação e enfrentam riscos mais baixos de desemprego, segundo dados do Gabinete de Estatísticas do Trabalho.

O órgão alerta contra ignorar os benefícios intangíveis de uma experiência universitária - mesmo uma experiência incompleta - para aqueles que possam não aplicar aquilo que aprenderam diretamente no seu trabalho.

"Eu não digo que as pessoas não devem tentar se formar. Apenas acredito que todos deveriam ter opções intermediárias e, se quisessem, seguir adiante com sua educação ou não."